terça-feira, 8 de setembro de 2009

A anatomia de uma evolução


Detalhe obra Michelangelo "A Criação de Adão"
O carro não tem tantas especialidades quanto os seres orgânicos, o que dele se espera é que ao menos se movimente. Será? Não, não mesmo! A tal mobilidade é hoje bem mais do que outrora: não basta apenas subir ou descer aclives, levar-nos a distâncias ou garantir o controle dos arranques e freadas. Todas estas tarefas, almejadas na primeira fase da indústria automotiva, nas seguintes, sofisticaram-se e agregaram outros itens, a fim de responder às exigências do mercado.
Imagem e semelhança do criador, não há o que estranhar na pretensão da criatura. É esta audácia que a impulsiona a produzir as maravilhosas máquinas humanas demasiado humanas (perdoe-nos a petulância, mas, não é para um deleite apenas que o criador tenha inserido a humanidade neste imenso laboratório natural).
O que fazem a maioria dos seres vivos, senão transformar energias (a física, a química e a biologia demonstram isto: "na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma", lembram?). Ao observar tais usinas, a criatura simplesmente resolveu aproveitar as reações químicas da combustão para produzir um resultado físico. Tirou da fórmula ar-combustível- pressão e centelha, a potência necessária para movimentar um pistão, e, por consequência, a máquina automóvel.
Simples? Nem tanto, há, sob todo o conforto, velocidade e eficiência um tanto de suor e equívocos, sucessos, aventuras e desastres. Como escreveu o poeta Fernando Pessoa, em Ode Triunfal, se... "há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas, é porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão".
Daí, persistente leitor, passageiro e motorista, o usufruto de todos estes benefícios deve-se, é verdade, a uma desobediência adolescente (que contradição é esta, afinal, a de doar um poder contido?).
Por isso, lembre-se de que a ousadia do homem vibra em cada peça deste automóvel que o leva em ruas e estradas afora. Negligenciar os cuidados regulares ou extraordinários não apenas poderá ameaçar a sua vida, ofenderá, pode ter a certeza, a dedicação de centenas de criaturas que transformaram a tal centelha em uma benção para a vida moderna.

A tempo
Seria exagero esta série de postagens comparativas aos organismos? Então leia a coluna de Armando Bispo no site http://www.opovo.com.br/, sob o título "A Memória da Máquina", recentemente publicado.

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